Comer & Viajar vai à Tromsø, na Noruega, fotografar a Aurora Boreal.

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Tromsø é uma cidade especial. Localizada no círculo polar ártico, pode ser visitada tanto no verão, onde os dias são intermináveis, quanto no inverno, onde as noites são longas por conta de sua localização geográfica, que fica em um dos extremos do planeta.

Era a primeira vez que eu estava em um local tão diferente, mas foi neste viagem que uma semente foi plantada na minha cabeça: de um dia estar morando em um local como este.

A vista do avião parecia cenas de um documentário do NatGeo, porém era real. Aquele grande sorvete de flocos estava lá. No meio dele, a cidade de Tromsø, rodeada por 50 mil ilhas e muitos fiordes em uma região que a temperatura média é -22ºC. Por sorte, ao desembarcar estavam suportáveis -8ºC.

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Surpreendentemente, a cidade possui 70.000 habitantes, lojas, restaurantes e pubs de rock. Isto porque Tromsø é um polo universitário, que conta com estudantes e pesquisadores do mundo todo. Isto fomenta a oferta cultural e mantém o calendário de eventos o ano todo.

Fora do centro comercial da cidade, temos vilarejos de pesca, natureza intocada, cachoeiras cristalinas e fiordes, que devo conhecer em uma segunda visita.

A culinária local é famosa pelos pratos à base de peixe, como peixe-anjo, o salmão, o arenque e o bacalhau. Ao conversar com pessoas do local , soube que bacalhau consumido no Porto, em Portugal, é, na verdade, norueguês e o Brasil compra 30% deste bacalhau.

Não custa alertar: a comida é boa, o atendimento é simpático e isto tem um custo.

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Sobre o frio: é frio pra c*! Mas apenas para quem tem roupas inadequadas. Por outro lado, o inverno na região do norte do país possui temperaturas mais amenas das que ocorrem no sul. E, devido às correntes quentes do Golfo, as águas que banham a costa da região não congelam.

Mas e a Aurora Boreal?

Não há quem nunca ouviu falar da Aurora Boreal, mas nem todas sabem que ela só aparece em lugares onde a luz solar é pouca e muito frio é muito. Em outras palavras, nos polos da Terra.

São nos polos do planeta, que o encontro das partículas solares que, misturadas à poeira espacial, resultam neste espetáculo. Por conta disso, para quem não vive no norte do planeta, anos atrás era raro encontrar uma pessoa que já tenha visto uma Aurora Boreal pessoalmente.

De Tromsø, partem as excursões. Normalmente, até o arquipélago de Svalbard, uma região do Oceano Ártico, habitada por ursos polares, que encontra Mar de Barents e o Mar da Noruega. Isto porque, locais onde há ausência de luz de cidade o espetáculo fica melhor.

O equipamento que levei comigo foi câmera fotográfica DSLR, uma objetiva olho-de-peixe e um tripé resistente.

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É importante escolher uma operadora que atenda as suas necessidades. Como o meu foco era não apenas ver, mas fotografar a Aurora Boreal, eu escolhi uma operadora que priorizada o registro das imagens. No caso, escolhi a Northern Shots, onde os guias são também fotógrafos profissionais e especializados em Aurora, super dispostos à tirar qualquer dúvida técnica que surja.

Como não é garantido, por conta das incertezas do mau tempo, o encontro com as luzes do norte, as operadoras oferecem um desconto de 50% para quem quiser repetir a experiência no dia seguinte.

A expedição começou pontualmente às 18h, às margens do Oceano Ártico. Seguimos em direção à Finlândia em um ônibus com ares de central meteorológica onde, durante todo o percurso, os guias compartilhavam conhecimentos de como o sensor da câmera se comporta diante da Aurora Boreal.

Monitoramento do tempo – Aurora Forecast
Este app sem dúvida alguma é indispensável. Com dados são fornecidos pela NOAA POES e pelo Instituto Geofísico de UAF, ele emite alerta sempre que há uma explosão solar e índice de atividade indicar Aurora Boreal visível na região onde se encontras.

 

Mãos à Obra:

Dica mandatória: use um tripé bom. Imagens com longa exposição necessitam estabilidade. Como a região Ártico venta forte (sério?) e um tripé pesado é obrigatório.

Comecei com ISO alto, longa exposição e já nas primeiras imagens descobri que aumentar significantemente o ISO não me garantiria uma Aurora Boreal mais luminosa: a luz do céu invadiu o sensor e matou Aurora.

Então, ISO acima de 1600, somente para baixa exposição (8s). Se a Aurora estiver pouco visível, inicie com ISO 800 e exposição 25s. Sinta a sua câmera e vá experimentando.

Use um bom cartão SD. A Aurora Boreal não estará lá sempre a sua disposição e perder tempo com buffer de cartão será um “pecado” Invista em equipamento.

Quanto mais widescreen e clara for sua objetiva, mais fácil será para obter pelas imagens. O erro mais comum que vi neste dia foram pessoas que resolveram (não sei porque) usar a 50mm 1.8. A única lente que eu tinha comigo naquele dia era a minha Sigma 10mm fisheye 2.8 mas eu teria obtido resultados muito melhores se nas minhas mãos tivesse uma Tokina 11-16mm. Esqueça profundidade de campo, uma lente wide vai ajudar na sua composição e você precisa de luz.

Quanto maior a abertura, melhor. E acertar o foco é mais fácil do que parece.

No entanto, muitas pessoas acabam por se perderem com suas lentes de kits, que não marcam o foco. A regra é: foco sempre no infinito. 

E use o foco manual, nunca o automático.

Se você tiver dificuldades de focar, foque um ponto muito distante, a lua por exemplo e mude o foco para manual.

E cuidado com longa exposição. Hoje eu prefiro usar o menor tempo possível. Assim a Aurora terá uma forma mais definida: 8s e ela fica com um desenho incrível! E assuma o ruído do ISO elevado, sem medo de ser feliz. Busque o equilíbrio, sempre Daniel San. Mas uma câmera Full Frame vai ter sempre menos granulação, isso é fato.

Use o timer da câmera para não borrar a imagem. E leve bateria muitas baterias reservas. Além do frio, exposições longas consomem muita bateria.

Esqueça “para todo o sempre” o JPEG.

Se vai gastar uma grana preta para ir até o norte da Escandinávia, então o mínimo que espero de você é que você volte com fotos incríveis de lá.

Compre uma câmera boa, invista numa lente “topzera” e fotografe sempre em RAW.

Na pós produção você poderá reduzir o ruído do ISO alto, remover aberrações cromáticas e qualquer tipo de distorções criadas pela lente.

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O visor LCD da sua câmera é seu inimigo e ele te mente, lamento mas é verdade. A imagem que estará gravada no cartão sd de sua câmera não vai ser tão clara quanto a imagem que aparece no visor. Então, aprenda a usar o histograma de sua câmera. Não sabes como funciona isso? Vais ter que aprender.

E a última dica: não esqueças que o elemento frontal do vidro da sua objetiva é composto por um material forte e resistente, por isso nada de filtro UV.

Voltei para casa com menos dinheiro, mas de missão cumprida. Fiz minhas primeiras fotos fotos da Aurora Boreal.

Hoje, anos 7 anos depois desta experiência, vim morar na Suécia. De tempos em tempos, a Aurora Boreal vem me visitar.